um projeto audiovisual imersivo, percorre casas e comunidades caiçaras do litoral fluminense e paranaense, em busca da música, do cotidiano, da espiritualidade, da terra, dos modos de vida e todas as questões que atingem o caiçara contemporâneo.

20/01/2009

ÚLTIMAS NOTAS SOBRE O PROJETO... agora, as filmagens foram concluídas... costurando as imagens, a estória fica mais ou menos assim...


TEU CANTO DE PRAIA é um documentário, em fase de finalização, que trata da questão da troca geracional através da música. O território da pesquisa é o litoral da Mata Atlântica, no Sudeste Brasileiro. A população de onde surgiram os personagens do filme é o povo CAIÇARA. Os caiçaras são os habitantes nativos da região da Mata Atlântica. Grupo heterogêneo; etnias branca européia, negro africano e índio sul-americano são sua base sanguínea, paisagens heterogêneas; da reserva ambiental Paranaense a regiões de turismo de luxo, passando por cidades históricas como Paraty- são sua geografia.



Pablo, baixista e pandeirista, integrante de uma banda eletro-acústica, filho de caiçaras agricultores e pescadores da Ilha Grande migrados para Paraty na década de 70, tem 33 anos e encarna no filme personagem que busca um sentido existencial e político na re-leitura da música tradicional caiçara e deste modo de vida específico. Profissão: garçon, barqueiro, recepcionista e outras atividades esporádicas.

Marcio, o "Gênio da música", 23 anos, toca todos os instrumentos com muita facilidade, mas é "especialista" no cavaquinho. Seu pai, Seu Vicente é musico do grupo tradicional OS CAIÇARAS – Coroas de Paraty. Marcio, até o encontro com o documentário, só tocava viola, cavaquinho e pandeiro de CIRANDA tradicional com seu pai, em casa. Na rua, e para ganhar um dinheiro extra, toca suas predileções; pagode, pop brasileiro e samba de mesa. Sua profissão: eletricista.

Leandro, nosso caiçara por opção. Integra o grupo Ciranda Elétrica junto com Pablo. Nascido em Copacabana no Rio de Janeiro, morou em Petrópolis, na periferia de Miami (onde freqüentava o movimento hip-hop) , e finalmente, aos 24 anos decide morar em Paraty para pesquisar o modo de vida caiçara e a questão ecológica que envolve este universo. Toca percussão. Profissão: recepcionista noturno.














Seu Leonildo, tem por volta de 65 anos, mora enquanto população tradicional na comunidade de Abacateiro, dentro do Canal do Varadouro, Paraná. Vive de maneira rústica; alternando a pequena agricultura com a pesca artesanal. Completa seu orçamento anual com a música , tocando e dando oficinas de Rabeca. De fato, Seu Leonildo é nosso personagem-guru musical. Além de ser considerado Mestre, por seu conhecimento natural e talento musical, também é um dos únicos músicos fandangueiros e tocador de rabeca (violino Rústico) a ter tido contato experimental com a musica tradicional– a vivência do tempo em que a Mata era o habitat de todo caiçara, e ali, plantavam, faziam mutirão e então festejavam a colheita com os ritmos de fandango. Hoje, para ele, viver dentro da Reserva Florestal pode ser um fardo.
A Família de Seu Leonildo conta com aproximadamente 12 pessoas. Todos moradores das comunidades vizinhas Abacateiro, Vila Fátima e Saco da Rita, nos manguezais da Reserva Florestal paranaense. Dentre eles, Jane, é nossa estrela. Filha de Seu Leonildo, tem 29 anos, é dançarina de Fandango e traz consigo esse conhecimento carregado ao longo da história pelas mulheres caiçaras. Casada com o caçador, palmiteiro e canoeiro Aparecido, mãe de Giovani, 7 anos.


O filme discorre sobre o universo particular de cada um desses personagens, da teia de relações que une uns aos outros em suas regiões, suas casas, em seus grupos musicais. Acompanha além da rotina, a produção musical de cada região; organizar ensaios com os grupos, conseguir divulgação, espaços e patrocínio para shows e apresentações,e, enfim ser produtor cultural e musical em cidades e/ou comunidades pequenas. Dentro da questão da produção musical enquanto trabalho, o filme abrange temas como o do produto cultural vendável para turistas, sobre tudo estrangeiros e/ou urbanos em busca de ideais naturalistas versus o tema da consciência Caiçara enquanto grupo, modo de vida e estrutura economico-social específica e senão ameaçada, em todo caso, completamente transformada nos últimos 30 anos pela especulação imobiliária, a construção de estradas de acesso em massa, o turismo galopante, o turismo de luxo, as religiões de cunho evangélico, a criação de parques e reservas ecológicas, as restrições ambientais e a própria chegada da tecnologia como em qualquer parte do mundo.
Pablo, Leandro e Marcio personificam o cenário "urbanizado", e turístico de Paraty, no estado do Rio de Janeiro.
Seu Leonildo, Jane e família, no Paraná, personificam as problemáticas antropológicas ligadas `a outra ponta do cenário caiçara; as reservas e parques florestais e o grande controle ambiental por parte das forças institucionais do meio ambiente neste momento em que preservar os 7% restante da Mata Atlântica é assunto de interesse nacional, internacional, global.
As duas realidades, Paraty e Paraná, dão-se paralelamente no filme até que se encontram, finalmente. Uma viagem de Kombi leva Pablo, Marcio e Leandro, caiçaras urbanos, a atravessar os estados de Rio de Janeiro e São Paulo, até chegarem em ARIRI, fronteira do estado de São Paulo com o de Paraná, cidade "fantasma" , porto-promessa do Canal do Varadouro na década de 50, hoje distante de 70 km de estrada de terra de Registro, cidade muito pequena, e a 580km de São Paulo capital. Em ARIRI, os personagens pegam um barco que os leva, após 4 horas de viagem náutica, ao ABACATEIRO onde terão contato com a música caiçara em seu estado quase que natural. Encontram Seu Leonildo que os ensina a arte da Rabeca, instrumento perdido há 20-30 anos na música de Paraty. Deste encontro geracional e geográfico, além de belas trocas musicais surgem debates reais sobre arte, política, ecologia, floresta, agricultura ecológica, antropologia, populações tradicionais, processos de rápida urbanização, favelização dos cablocos, identidade e mito de origem.



Fotos blog Ciranda Elétrica/ Antonia Moura Leite

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