um projeto audiovisual imersivo, percorre casas e comunidades caiçaras do litoral fluminense e paranaense, em busca da música, do cotidiano, da espiritualidade, da terra, dos modos de vida e todas as questões que atingem o caiçara contemporâneo.

28/08/2008

O SOM DO ENCONTRO DA MATA COM O MAR E COM OS HOMENS - Melodias Caiçaras

As violas, caixas e vozes, que mesclam tons de tribos tupis guarani, portugueses e negros, que ora se parecem lamúrias por alguma saudade, ora a alegria de festa profana ,ou ainda de uma novena lusitana.

Esta pororoca musical manifesta pelo caiçara do litoral norte paranaense até o sul fluminense, ecoa de sua moradas ou dos sítios em que são feitos os folguedos para lugares onde hoje ainda botos, biguás, atobás e outros bichos marcam o ritmo como ao de um fandango de bate pé, devido, de certa forma, ao decreto mudo daqueles que habitam terras mais altas e áridas, na tentativa de frear o erro e o descaso com o meio ambiente.

Criaram -se as áreas de proteção ambiental. Fraseado de repentista que pegou o caiçara, um pouco índio, inocente e extrativista , e junto com a especulação imobiliária, mandou uma parte desta cultura`a entoar sua melodia, um tom abaixo do barulho da cidade mais próxima pelas vias do mar.

E, como ainda na fala de um canto de improviso, faz do encontro dos novos desterrados, a continuação da folia e a preservação da cultura desta gente como em uma ciranda de Paraty.


Neste momento da musica, o palco se divide em dois. De um lado permanece a preservação dos costumes musicais, como a de um mangue adensado de cultura popular, a ser amparado e difundido, e do outro, próximo ao mangue real, resistem `aqueles que ficaram e tem na sua musica e dança, a melhor forma de preservação e resistência.

No entanto, em ambos os casos resta a dúvida da continuidade desta cantoria, que não se mantém por decreto e não evolui pela lei. Ela ,como a história, é dinâmica. Se por um lado não estão aqui mais os missionários portugueses que proibiam as Congadas nos dias santos, os descendentes de fandangueiros não tem mais mutirão para empunhar uma rabeca. Alem do mais, o xote, o forró, e o pagode chegam como sereias para seduzir e quebrar o bucolismo da paisagem destas populações ribeirinhas. E novas pororocas vão se formando.”


Texto por André Sobral - idealizador e produtor executivo do projeto TEU CANTO DE PRAIA

22/08/2008

GIOVANI



Foto por Antonia Regina Moura

Visões do Mestre e Rabeca no Fogo



Seu Leonildo no Abacateiro, entrada do canal do Varadouro na area de proteção ambiental no litoral do Paraná. Mestre do fandango , nos recebeu por 6 semanas no total das nossas viagensem, sua casa, nos "ensinou" a construir instrumentos como a rabeca e conversou conversou noites a fio a luz de velas e dias adentro... canoando sempre...reflexões de um verdadeiro Guru da simplicidade e da música.



- quem fala neste vídeo é seu RANDOLFO, irmão de Leonildo, cheguem bem pertinho e desliguem todas as antenas entorno....-


A Rabeca é de origem árabe, anterior ao violino - instrumento que mais assemelha-se a ela- usada na música medieval européia e em algumas manifestações populares no Brasil. Chegou a terrinha provavelmente pelas mãos européias , e foi adaptada ao meio que a acolheu. No caso da RABECA do fandango de seu Leonildo (cada mestre tem sua poética ao construir o instrumento dando a cada Rabeca um som único, com uma única afinação própria ao ouvido de seu Mestre construtor), o pinho, a caixeta e a canela foram as madeiras escolhidas, já que vivem na Mata Atlântica e nos manguezais típicos do Canal do Varadouro. A extração da caixeta, canela e outras madeiras é proibida pela legislação dos parques paranaense. Mas, foco de resistencia da cultura de raiz caiçara, os músicos e artesões, conhecedores dos limites e segredos da Mata, mesmo que ilegalmente, continuam a praticar suas poesias cotidianas. Por uma antropologia ecológica! E para os amantes da música...

21/08/2008

Criação de reservas X Expulsão das comunidades tradicionais

MÚSiCA e MODO DE VIDA, laços profundos...
Jane, dançarina de fandango, e seu pai, o Mestre de Rabeca e Fandango de Abacateiro, Leonildo, falam sobre o momento em que foram expulsos do Rio dos Patos- sítio onde algumas grandes famílias caiçaras roçavam, moravam, faziam farinha e fandango a noite inteira e dias adentro.
Com a expulsão das famílias e a perda do modo de vida, a cultura caiçara também entrou num processo de extinsão - já que a cultura é intrinsicamente ligada ao modo de vida e ambiente de um povo.
Nossa equipe passou 3 semanas fazendo uma vivência musical, espiritual e antropológica com os músicos que vos falam abaixo sobre o processo de desterritorialização sofrido.



Jane, dançarina, e seu pai Leonildo, mestre da rabeca, contam sobre a violenta expulsão da família do Rio Dos Patos, região caiçara transformada em reserva no Paraná.


A região foi transformada em parque no final dos anos 80, e , a população que habitava as áreas protegidas foi expulsa violentamente dali, sem que houvesse um plano de compensação financeira ou mesmo de re-educação ambiental (eles tiveram de passar do dia para a noite de lavradores para pescadores), ou qualquer projeto economico , social e cultural que servisse de apoio a estas pessoas destituídas de suas terras de origem e de seu modo de vida. O problema da criação e gestão dos parques e a questão das populações tradicionais se agravou muito durante os últimos anos, onde houveineficiência das políticas públicas socio-ambientais e mesmo da falta de atuação real das ONGs cadastradas no local (cerca de 80 Ongs)... Enfim, hoje o Paraná desenvolve um projeto pioneiro de Gestão Participativa, onde representantes das comunidades, autoridades ambientais que atuam na região (Ibama e outros), Ongs, Universitários, Reitores, Policias ambientais e outros , confrontam projetos, ações e pontos de vista com o objetivo de criar políticas e práticas mais democráticas. A Gestão Participativa ainda encontra-se em fase de desenvolvimento/experimentação. Nossa equipe participou de alguns encontros, e de fato, há um esforço de democratização, porém o que fica bastante claro é o abismo entre discurso, abordagem formal e/ou acadêmica e a necessidade diária, as conseqüencias diretas e reais das políticas no modo de vida caiçara - ainda muito a margem de um padrão aceitável de vida e desenvolvimento humano. Apesar dos discursos, as bases de higiene, educação e saúde ainda são precárias. Muitas comunidades não conhcem escolas nem colheta de lixo, por exemplo.

EQUIPE HERÓICA em CAMPO

Antonio Sobral, nosso fotográfo franco-brasileiro do mundo inteiro, em ação.




































A equipe chega a praia deserta (4 horas de
carroça!) . Nela: Antonia Moura, Bernardo Spindola, Antonio Sobral, Gustavo Nascimento e Manu Sobral.



Gustavo Nascimento,nosso OUVIDO: os papagaios da cara roxa estão chegando...















Manu Sobral, a "iluminada" ( e grávida!) diretora desta heróica imersão. Seu futuro filho "piriga" nascer na canoa. Para saber como fazer, ela fez um tour educativo com as PARTEIRAS da região... num próximo post, revelaremos os ensinamentos de ALZIRA : Parteira de Rio dos Patos... muito útil a TODAS as grávidas aventureiras..


Palmitos Proibidos

Parece o mito do paraíso perdido, ensolarado, verde, abundante. Mas não é.
O corte de palmitos nativos como estes é estritamente proibido. Sua extração não é tolerada nem para auto-consumo das populações tradicionais locais. Esta lei proibitiva e sua aplicação custam a vida e/ou integridade física de muitos "nativos" pois uma sorte de guerrilha rural desenvolveu-se em torno da questão dos palmitos. Muitos nativos já foram mortos, como afirma a Força Verde em uma entrevista por nós gravadas. Assim como policiais militares da Força Verde também já foram capturados (seqüestrados) por "palmiteiros", como depôs A. , um dos nossos personagens. Além de construtor de rabecas e instrumentos musicais, A. também corta palmito para as industrias que, independente das leis e de seu modo de aplicação, continuam a comprá-lo ilegalmente nas cidades portuárias mais próximas das comunidades tradicionais por um preço sedutor apesar de baixíssimo para os padrões urbanos. Provavelmente, você que agora lê este artigo e vê estas imagens também é cúmplice desta guerrilha responsável pela morte de nativos e devastação da Mata Atlântica, quando come palmitos comprados nas prateleiras dos supermercados. São estas latas ou potes de vidro que omitem tais conflitos e seus fabricantes são as maiores responsáveis pela Questão dos Palmiteiros.
Por enquanto, mostraremos neste trecho audiovisual, apenas um conhecido do bando que nos leva a um bulcólico passeio pelos campos de guerra esverdeados.

DUELO DE RABECA no litoral Paranaense

Leonildo e Zé Pereira, expoentes da família de Fandangueiros do Paraná; Família Pereira, tocam em duelo na Vila de Ariri, Canal do Varadouro, São Paulo. Nossa equipe chegou ao local de baleiera após a travessia do Canal. Fomos a casa de Arnaldo, irmão dos "rabequistas", e músico também, onde um fandango correu solto até meia-noite.


A Rabeca é um instrumento de origem árabe, cuja aparência lembra o violino, mas que de fato é um outro instrumento específico, de 3 cordas somente. Seu corpo é talhado, preferencialmente, no pinho, caixeta e canela (tipos de madeiras nativas). O arco é confeccionado com cipó e uma tripa de madeira flexível. Para maior fluidez do arco nas cordas, é colocado o breu no dorso da pequenina Rabeca. Ela é um instrumento usado também na música medieval. Concluo que chegou as nossas costas, povoadas por indígenas, pelos jesuítas em suas missões. Ali, o seu fazer foi adaptado as matéria-primas provenientes da Mata Atlântica. Assim, os caboclos caiçaras, deram origem a uma versão personalizada da antiga Rabeca, e com ela fabricam e "poetisam" sons e ritmos que mesclam percepções sonoras da natureza, modas sobre a vida cotidiana, lendas, mitos, crenças religiosas e a tradição oral da região, batidos de flamenco, ritmos europeus e mesmo traços da musicalidade açouriana. (ver estudos de Kilza Setti sobre etnomusicologia).

Hoje, em parte graças aos estudos realizados pelo músico e pedagogo GRAMANI, sabe-se que cada Rabeca tem uma afinação própria, definida empiricamente pelos seus construtores (que por sua vez aprenderam o ofício através dos ensinamentos familiares ou mesmo da observação dos mais velhos), fazendo de cada instrumento uma única prova irreprodutível e rústica compondo um conjunto de sons exclusivos.

Para saber + sobre este instrumento: RABECA, o som inesperado

20/08/2008

Vídeo postado pela Laíse (produtora e super entusiasta do Grupo Ciranda Elétrica... e... fomentadora da Cultura Caiçara) que mora in loco, Paraty!
Bem legal! Esta é a outra ponta contemporânea da Cultura Caiçara!